Respeitar as escolhas das crianças

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Caetana tinha 2 anos e 5 meses quando começou a usar vestidos, a pedido da própria! Eu, como mãe, apenas respeitei o pedido.

Inicialmente escolhem os pais

Eu sou uma pessoa prática, pessoa de calças de ganga e sapatilhas. Não me sinto bem com saias nem vestidos porque não os acho práticos.

Como tal, não me fazia sentido vestir assim a minha filha só porque a sociedade acha que essa é a roupa indicada para ‘menina’. Eu também sou mulher e não me sinto nessa obrigação. O pai percebia e deixava ao meu critério.

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Para mim, este era um dos outfits preferidos.

Para (des)ajudar a minha situação, entrava em lojas de crianças e a roupa está dividida por géneros. A secção de menina composta maioritariamente roupa branca e rosa, quase tudo com folhos e algumas rendas – tudo pormenores que não me agradam. Enquanto a secção dita de ‘menino’ tem maioritariamente roupa simples e de variadíssimas cores.

Não raras vezes, comprei roupa denominada de ‘menino’ para a minha filha – como no exemplo da foto acima – por ser aquela com que mais me identifico.

E não raras vezes ouvi ‘A Caetana há-de crescer e só há-de querer vestidos e vai adorar cor-de-rosa’. Apesar de eu responder que estava de bem com isso e respeitaria quando me fizesse tal pedido, pouca gente (ou nenhuma) acreditava que eu falava a sério. Achavam que eu o dizia da boca para fora para não me incomodarem mais com o tema.

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O único que tive pena de não haver para o meu tamanho

Vendo bem, muitas delas, são pessoas que não permitem aos filhos escolher certo tipo de roupas com 12/13 anos, quanto mais na primeira infância.

Vestidos

Em janeiro do ano passado Caetana tinha 2 anos e 5 meses.

Apesar da tenra idade, num dos dias em que a fui buscar à creche, mal me viu, pegou na mão de uma amiga e vieram as duas até à porta.

Essa amiga vestia, nada mais nada menos, que uma saia de tule cor-de-rosa choque!

Desta forma, percebi de imediato que tinha chegado o já previsto momento dos vestidos. Perguntei à Caetana se gostava da saia da amiga e claro que me disse que sim.

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No fim-de-semana seguinte fomos então a uma loja das mais baratas e eu disse-lhe:
– Caetana, escolhe o que tu quiseres porque a mãe compra-te vestidos mas não gosta muito e, por isso não sabe escolher.

Fiz questão de dar menos ênfase ao facto de eu não gostar e muito mais ênfase ao facto “escolhe tu que eu pago!”

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Pedia para levar os óculos e deixei sempre

A minha ajuda enquanto adulto foi mostrar todos os que ia vendo. Qual não foi o meu espanto quando Caetana me disse que não a quase todos e saímos apenas com dois, sendo que um deles foi o que considerei mais piroso de todos mas que, assim que vi, tive a certeza de que o iria querer.

Lembro-me como se fosse hoje, de lhe mostrar um vestido com 2 bonecas Minnie e ela dizer que não gostava – foi nesse momento que percebi que a miúda sabia bem o que queria.

Estando nós em janeiro, já havia fatos de carnaval em loja. Também lhe mostrei alguns, com muitas cores e tules, de unicórnios e da frozen mas não gostou de nenhum (curiosamente acabou por se mascarar de corujinha, que veste calças).

Uma questão de hábito

Uma vez que, após ir de vestido para a creche, os pediu novamente, percebi que Caetana não só gostava, como se sentia bem com eles.

Fomos então a outra loja com vestidos mais comuns e ajudei Caetana a escolher alguns – dentro do que já sabia que ela gostava. E daí já veio um que me agradou um pouco mais.

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O meu primeiro preferido

Entretanto passei a gostar de alguns vestidos e, dentro do mundo piroso dos tules e cores berrantes, até tenho sorte que Caetana não é das crianças mais pirosas.. Ou devo dizer que ainda não chegou à fase mais pirosa?

Hoje em dia também já posso encomendar vestidos sem perguntar porque já percebi qual o estilo que a miúda mais gosta e tenho acertado sempre.

Respeitar tudo! Não apenas o mais comum

O mais curioso é que toda a gente acha que fiz muito bem deixar a MENINA vestir VESTIDOS. Ninguém se admira de eu a deixar vestir roupas de que não gosto, por ela estar alinhada com o que a sociedade “dita”. Ao mesmo tempo, acham estranho quando Caetana utiliza, fora de casa, um acessório menos comum ou colocado de uma forma diferente, como a fita na foto que se segue:

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Caetana foi assim para a creche. Filmei com a câmara de dentro, ela a ver-se e a dizer “eu estou bem, mãe”. Cheguei à creche e mostrei o vídeo à educadora, para perceber que Caetana se viu e quis mesmo ir assim. E, como eu, os adultos da sala respeitaram.

Eu aceito vestidos por uma questão de respeito! Claro que também aceito fitas na testa.. Porque não? Óbvio que fiz questão que a miúda se visse ao espelho. Ver-se e dizer-me “eu estou bem” foi o suficiente para eu não questionar mais.

Para mim só 2 critérios importam: clima e conforto.

Clima

Neste momento, com 3 anos, Caetana não passa frio. Por exemplo, se lhe digo que está frio e tem que levar casaco, acredita e aceita! Se, na rua, quiser tirar o casaco, eu saberei que ela está realmente com calor e deixarei que o tire.

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Ao mesmo tempo, sei que adolescentes nem sempre o fazem e pode acontecer passar frio só para estar na “moda”. Tenciono educá-la de forma a que isto não aconteça mas, se acontecer, terei que ter uma conversa com ela daqui a uns anos. Por enquanto ainda é um “não assunto”. O que me interessa é que, agora que tem 3 anos, eu confio nela e sei que se sentir frio/ calor vai ser a primeira a queixar-se.

Conforto!

Para mim, o mais importante de tudo: Caetana sentir-se confortável.

O corpo é dela, a imagem também. Que se vista como se sentir melhor. Da mesma forma como eu escolho a minha roupa, ela escolhe e escolherá a dela! Eu só tenho que respeitar os seus gostos.

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A primeira vez que lhe pintei as unhas, 2A e meio

É inaceitável um homem opinar sobre a roupa de uma mulher! É estranho pais aceitarem que a criança escolha a roupa que quer vestir, quando sai do padrão dito comum!

Percebem a incoerência da frase acima? Para que a minha filha nunca dependa da opinião de um namorado/ marido, é preciso que, desde o mais cedo possível, ela perceba que ela e só ela decide como se quer vestir!

Assim sendo, um ano depois, Caetana tem vestidos e calças que vai usando. Se há semanas em que anda sempre de vestidos, há outras em que calha vestir sempre calças.

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Atentem nas unhas azul neon, também escolha da própria

Muitas vezes sou eu que lhe escolho a roupa (sem grande critério, confesso) porque já sei que, se lhe apetecer usar outra coisa, mesmo depois de eu tirar algo sem perguntar, ela vai dizer. Porque sabe que eu respeito as escolhas dela, só estou a tirar para ser mais rápido. Já aconteceu eu tirar umas calças e, logo a seguir trocar para vestidos a pedido dela.

Deixo ainda mais fotos de Caetana a usar vestidos: Alguns pareciam mais giros nas encomendas online e depois saíram estranhos. Outros pareciam mais comuns e tinham mais folhos/ rendas do que parecia na foto mas nunca nenhum ficou por estrear.

Carolina Valente Pereira

Gosto de ler, escrever, partilhar factos, aventuras, opiniões e brincadeiras

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