Quem quer casar/ namorar..

Last modified date

Comments: 0

[Quando eu era pequenina, este título sugeriria apenas um texto banal, sobre um desenho animado: A Carochinha!
Quase 30 anos depois, a Carochinha perdeu o seu posto. Foi trocada por agricultores e filhos, em programas de televisão]

Namorar com um agricultor?
Foi este que vi ontem.
Entristece-me que haja mulheres a prestarem-se a ser escolhidas daquela maneira por um homem, seja ele agricultor ou outra coisa qualquer.
O que vi ali foi, basicamente, a descrição que tenho lido do tinder, com a diferença que ali quem tem a primeira palavra sobre o match é o homem!
Eles sentam-se e esperam que cada mulher, na sua vez, vá ao seu encontro.
No final escolhem algumas para um encontro mais privado!
E ali estão elas: a tentar agradar-lhes para serem escolhidas.
É certo que tentaram agradar mais a uns do que a outros. Mas, no final, foram eles que escolheram!
Algumas foram escolhidas por mais do que um, podiam ter optado por recusar e ficar só com um encontro. Mas não, aceitaram todos.

Casar com o meu filho?
Na tvi dava outro, onde as mães ajudam os filhos a escolher uma noiva – o que também aconteceu com um candidato do programa da sic, devem ter-se enganado aquando da inscrição.

O programa da tvi é bom. Só tem o nome errado!

As mães procuram uma empregada doméstica para os filhos. Mas atenção, em troca não são pagas, aturam os filhos, tendo que casar com eles. É assim tipo um contrato de trabalho eterno.
Mas não é um trabalho único, isso nem pensar. A noiva ideal tem que ter um emprego normal, durante o dia, e depois tem que tratar da casa, da comida e do marido.
Eu só vi um candidato da tvi, e não vi as suas entrevistas todas. Deu bem para perceber que a principal preocupação daquela mãe era se as raparigas sabiam cozinhar e tratar das lides domésticas.
O filho, por sua vez, procurava uma rapariga com um corpo bonito. Ter uns quilos a mais era impedimento para ser sua noiva.
No decorrer das entrevistas percebeu-se também que ser mãe era outro impedimento. Neste ponto achei curioso, quando uma rapariga lhe perguntou se queria ter filhos, o facto de a mãe, muito depressa responder ‘mais tarde. Ainda não’. Mas, quando lhe tocou a ele falar, percebeu-se claramente que filhos não estão sequer nos planos.
E o miúdo é livre de não querer ser pai, nada contra. Só achei curioso a mãe ainda acreditar que isso vai mudar, parecendo ele tão convincente do contrário.
Entretanto vi stories e comentários no Instagram. Ao que parece, a preocupação com a cozinha e as lides domésticas era um fator comum a todas as mães.

O que me leva novamente ao comentário inicial – as mães daquele programa não procuram uma noiva. Procuram uma empregada. Ser noiva do filho é um extra.

Vi outro candidato [em stories] que ainda me deixou mais estupefacta.
O rapaz dizia abertamente que não gosta que se metam na ‘sua bolha’. Segundo ele: ‘sou frio e, quando estou chateado, tenho uma expressão bastante explosiva para fora’. Também assumiu ser manipulador.
Agora digam-me. Com esta descrição, quem está disposta a casar com ele?
A cara da rapariga mostrava uma expressão de ‘não estou a acreditar que ele está a dizer isto’.
Mas depois tudo passou. Após olhar para a mãe, o menino lembrou-se da pergunta ‘cozinhas?’ Ao que ela respondeu que ‘só o básico’ mas ele aligeirou o assunto questionando-a sobre saber fazer ‘massa de atum’ e ela, muito mais animada e descansada disse que ‘sim. Massas, adoro. Massas, picanha é o que eu mais gosto, adoro’

Uau! Muito melhor. Após saber que gostam ambos de massa nada mais interessa. Podes ser explosivo para fora, manipulador, podes ser o que quiseres porque a massa de atum salva toda uma relação!

O que dizem estes programas sobre esta geração?
Que estamos em 2019 e enquanto uma parte do mundo está preocupado com a igualdade de género e as faltas de respeito constantes perante o sexo feminino, do outro lado vemos o oposto: programas onde as mulheres ‘lutam’ por um homem que acabaram de conhecer como sendo agricultor e mães preocupadas em ajudar os filhos a escolher uma noiva à ‘sua altura’.
E o que é certo é que só se inscreve quem quer e, como se viu, há mulheres dispostas a serem escolhidas, publicamente, por um homem e pela sua mãe.
No programa de mães e filhos temos 2 tipos de mulheres: as que se dispõe a ser escolhidas. E as mães que vão escolher a mulher do filho.
E o que se segue à escolha das mães? Sentam-se ao lado da cama a ensinar educação sexual ao filho?

casar
Vá à tv. Se for homem escolhe. Se for mulher tem de agradar para ser escolhida.

Gostava imenso de ver isto de outra perspetiva mas não consigo.
Não encontro uma única razão para que uma mulher goste de ser escolhida desta forma – em nenhum dos programas.
Ainda me deixa mais confusa um homem estar disposto a levar a mãe para ajudar na escolha da pessoa que quer ao seu lado para o resto da vida.

Carolina Valente Pereira

Gosto de ler, escrever, partilhar factos, aventuras, opiniões e brincadeiras

Share

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Post comment