E quando a o nosso filho nos morde?

Perguntei à Caetana para onde íamos e ela respondeu prontamente que íamos para a pana [cama], seguido de um ‘não’. Ela sabia que estava no momento de dormir a sesta e independentemente da sua vontade iríamos para a cama, mas achou por bem completar a informação expressando a sua vontade. A seguir foi buscar um livro de água e eu pedi para o arrumar. Respondeu-me ‘é meu’ e eu disse-lhe que sabia que era dela mas estava na hora de ir dormir a sesta, não de pintar. Como não pousava nem me dava o livro, pedi licença e tirei-lho.
A reação foi imediata: mordeu-me no dedo. Eu podia ter evitado, desviando a mão, mas não o fiz. Ela já ameaçou e mordeu mais vezes e eu só fujo de forma inconsciente, se não estiver mesmo à espera. Quando prevejo que o vai fazer deixo que o faça.
Inicialmente abria a boca em jeito de ameaça, mais tarde começou a encostar a boca aberta à minha pele. Agora, de vez em quando, morde mesmo.
Quando apenas ameaçava eu fazia-me de desentendida e perguntava ‘então, ias dar um beijinho à mãe?’ e ela já não mordia e dava-me um beijinho. Depois eu acrescentava ‘ ah logo vi que me vinhas dar um beijinho, que querida’.
Hoje mordeu-me mesmo o dedo quando lhe tirei o livro. Deixei morder durante os segundos que quis e a seguir perguntei-lhe diretamente o que tinha feito! Não respondeu e fez-me festinhas, deu-me beijinhos no dedo e tentou distrair a minha atenção com o brinquedo que tinha à mão. Não assumiu verbalmente o que fez de errado mas percebeu porque tudo fez para distrair as minhas atenções de forma positiva.
Repararam que eu nunca lhe exigi que pedisse desculpa? Nem perguntei ‘Caetana, tu mordeste à mãe?’
Não quero que peça desculpa porque não lhe quero transmitir a ideia de que pode fazer asneiras e a seguir pronunciar a palavra e está tudo bem, do género ‘eu estou irritada e mordo. Depois peço desculpa e fica tudo resolvido’. Eu peço-lhe desculpa por ações que tenho sem intenção como, por exemplo, quando se mete à minha frente e a piso SEM QUERER. E é essa a mensagem que pretendo passar-lhe sobre essa palavra, portanto, neste caso não quero que ela peça desculpa. Fico mais satisfeita se me der um beijinho – que ela acredita que cura dores e feridas e é o que nos pede quando se magoa – do que me diga uma palavra.
Quanto à pergunta ‘Caetana, tu mordeste à mãe?’ não vos quero mentir e é possível que a tenha feito nas primeiras vezes, quando fui surpreendida com esta atitude. Mas tento ao máximo não o fazer. E sabem porquê?
Porque o meu objetivo é focar a atenção nas boas atitudes, não nas más. Eu não quero estar 5 minutos a reforçar o erro dizendo ‘isso não se faz; tu não deves morder; o que fizeste está errado…’ Por outro lado, prefiro direcionar a nossa atenção [a minha e a dela] no que ela deve fazer: dar beijinhos é uma espécie de atitude oposta à mordidela.
Já nem refiro, como já ouvi, ‘se fosse comigo levava logo uma palmada na boca’ porque enfim não é? Morder está errado mas bater também. Se lhe bater passo a mensagem que não pode morder mas pode bater, para além de todas as outras consequências da palmada. E ainda a questão de ela deixar de morder por medo (algo que também não quero). Eu não quero que morda porque não resolve nada e ainda magoa a outra pessoa, não por ter medo que lhe batam de volta.


Eu quero que ela grave na memória os beijinhos, não as mordidelas.
Hoje já tentei que ela assumisse que tinha mordido, para depois lhe explicar que não o deve fazer. Ela não assumiu verbalmente mas percebeu que tinha agido mal e não repetiu, mordeu uma vez e deu beijinhos e fez festinhas quando tentei falar sobre o assunto.
Porque mudei de atitude?
Porque a Caetana tem demonstrado estar a dar ‘um salto’ no seu desenvolvimento, compreendendo mais e melhor o que lhe dizemos e começando também a expressar-se melhor através da fala. Um exemplo muito simples é o facto de eu lhe ir pedindo que diga ‘xau, adeus, até amanhã, até logo…’ sempre que o pai sai de casa ou quando nos despedimos de alguém com quem eu fale na rua ou no café. Ontem disse ‘adeu’ ao pai, hoje já disse ‘deusss’. Evoluções simples para nós, significativas para crianças que estão a desenvolver a fala. Não que faça deles melhores ou piores crianças mas faz com que nós possamos começar a abordar algumas situações de uma forma diferente. Se antes eu me limitava a ignorar as mordidelas e focar-me apenas nos beijinhos, agora além disso também tentarei conversar sobre o assunto.
Os vossos filhos costumam morder? O que vocês fazem quando isso acontece?