Autonomia da criança
A autonomia da criança é algo que requer tempo e confiança!
Tirar os sapatos
Não podemos pedir a uma criança que tire os sapatos e esperar que o consigam fazer à primeira, mesmo que o façam com frequência quando não lhes é pedido.
A Caetana não é diferente dos outros. No carro, é frequente descalçar-se, apenas porque lhe apetece. Em casa, agora já começa agora a tirá-los a meu pedido mas, há algum tempo que eu lhe pedia, sem obter grande sucesso.
Inicialmente, tentava mas não conseguia. Eu ajudava e ficávamos ambas satisfeitas. Ela porque estava calçada, eu porque ela tinha tentado. E tantas vezes tentou que já consegue.
Para que isso aconteça e ela tire os sapatos aos 18 meses, fui pedindo para que ela tentasse muitas outras vezes. Já há algum tempo que tirava um mas não tirava os dois.
É preciso pedir, deixar que tentem, mostrar como se faz, ajudar a fazer, observar!
Ora, para mim seria muito mais rápido sentá-la na cama e tirar-lhe os sapatos. Mas assim estaria a ensinar-lhe que faço tudo por ela! Em vez de a preparar para que saiba fazer as coisas sozinha!
Eu quero que ela seja uma pessoa autónoma, que saiba agir sozinha.
Eu peço-lhe que tire os sapatos e dou-lhe o tempo que precisar.
Demoramos mais tempo? Sem dúvida. Mas é ela que se descalça!
E nesse tempo eu observo! Se for preciso incentivo dizendo-lhe que sei que ela consegue, que está quase… Mas tenho que lhe demonstrar que estou ali, ao lado, a participar no momento dela, com ela! Se eu pegar no telemóvel ou se sair de perto dela, Caetana vai perder o interesse em tirar o sapato e passar para algo que queira realmente fazer.
Observar ativamente a minha filha a descalçar-se é tempo de qualidade que passamos juntas! Porque é um momento de aprendizagem dela.
Por o gorro/ Tirar o casaco
Tirar o gorro não conta porque, no caso da Caetana, é algo prazeroso uma vez que, como muitas outras crianças da idade dela, Caetana gosta mais de ter o cabelo ao ar livre. Tantas vezes pedi que pusesse o gorro que, passado várias tentativas, já consegue. Fica torto, preciso de ir depois tapar ambas as orelhas (a esquerda costuma ficar de fora) mas é posto por ela. O gorro e o boné!
Tirar o casaco é o desafio do momento. Caetana desaperta até ao fundo, eu separo o fecho. Ela começa a tirar o casaco, quando percebe que ainda não consegue fica nervosa, eu puxo um bocadinho uma das mangas e ela faz o resto.
E isto acontece todos os dias, em casa, na creche, no café. Em qualquer sítio onde Caetana tire o casaco na minha presença treina mais um pouquinho. Demora sempre mais tempo do que se fosse eu a tirar-lho, mas aprende sempre mais um bocadinho.
Também é a Caetana que escolhe o casaco que quer vestir. Para isso ser possível, só os casacos da época estão ao alcance.
Colher no lavatório
Quando come algo com colher (iogurte por exemplo), Caetana já sabe que a colher vai para o lavatório e que, para isso, precisa do seu banco para a colocar lá, sozinha.
O que desarruma tem que arrumar
Os brinquedos estão ao seu alcance. É a Caetana que escolhe com o que quer brincar. Se desarruma um brinquedo, no final terá que o arrumar – noção que começa agora a compreender e que ficará para outro artigo. [não pensem que arruma tudo sem que lhe seja dito nada. De vez em quando já arruma um antes de desarrumar outro. Mas, na maioria das vezes ainda precisa de ser lembrada e, muitas vezes ajudada]
Não esconder objetos onde não pode mexer
Caetana não mexe em facas. Isso não quer dizer que, por vezes, não estejam ao seu alcance (as de comer, na mesa – as de cozinhar, mais afiadas, nunca podem ser esquecidas e, por enquanto, estão visíveis mas fora de alcance). Se ela pegar numa eu não lha tiro da mão. Como já lhe expliquei várias vezes, neste momento limito-me a perguntar ‘Caetana, tu podes mexer nas facas?’ e ela, por uma questão de hábito, pousa-a ou dá-nos!
E que hábito é este? O hábito de que, em casa, não escondemos nada e pode mexer em (quase) tudo o que está ao seu alcance. Assim, Caetana sabe que quando lhe dizemos para não mexer é porque não pode mesmo.
Fralda e Iogurte no lixo
Caetana adora e diverte-se imenso a levar as fraldas dela ao lixo. Com os iogurtes a mesma situação. Caetana come muitos iogurtes daqueles de chupar. Vem ter conosco, ainda não fala mas já sabe dizer ‘ábe’, não abrimos enquanto não pedir. Depois damos-lhe e ela come sozinha. No final deita no lixo (depois de ser lembrada. Se não dissermos nada pousa-o no chão ou na mesa mais próxima).
Fichas (des)protegidas
Ontem, no café, Caetana estava junto à janela.
Eu estava a conversar mas mãe tem sempre um olho na conversa, outro na criança. O Sr, pensando que eu estava distraída mas já nos conhecendo bem, apenas perguntou ‘ela não está a mexer na ficha, não?’ Sendo um café que frequento diariamente eu sabia que, apesar de meio escondida, está ali uma ficha.
Caetana não lhe mexe porque em casa as fichas não estão protegidas. Está habituada a vê-las e não tem interesse.
Já explorou a ligar e desligar carregadores. Comecei por tentar impedir, afastando-a do local. Como a miúda voltava sempre à tentativa juntei-me a ela. Ajudei a ligar e desligar o carregador 5 ou 6 vezes – eu colocava na ficha, ela tirava – foi o suficiente para perder o interesse.
Claro que com crianças todo o cuidado é pouco e, ontem, se a visse olhar para baixo teria que a chamar e talvez chegar perto dela. Mas eu sabia o que o interesse era outro: estava a olhar para a rua a ver passar os carros, como faz várias vezes.
Explicar e confiar
O que faço na grande maioria das vezes é chamar a atenção da Caetana, não lhe tirando nada das mãos, nem a tirando dos sítios. Se for preciso, chego mais perto dela, dando as mesmas indicações que dei ao longe e, por vezes, num tom mais baixo e mais sério. Só intervenho se realmente houver necessidade. Se lhe digo que não pode ir para determinado sítio e ela continua a tentar, vou repetir a indicação mais perto dela, se vir que tem mesmo intenção de ir retiro-a do local. Mas começo sempre por explicar-lhe e tentar que obedeça sem intervenção física.
Comecei a explicar-lhe quando ainda não tinha a certeza se me compreendia. E talvez não compreendesse exatamente as minhas palavras mas eles compreendem, pela nossa forma de falar, se agiram de forma correta ou incorreta. Sabem perfeitamente quando estão a ser elogiados ou repreendidos.